Seguidores

sábado, 28 de novembro de 2009

DIÁRIO DE BORDO.CAPITULO III





Nos navios modernos não existe mais a figura do sparks, telegrafista, substituído pela tecnologia.Raul diz que hoje não há mais navegadores,há técnicos. Barra pesada deveriam enfrentar os marinheiros de antanho, guiando-se pelas estrelas, lutando contra o Mar Tenebroso, com seus aparelhos rudimentares, bússola e astrolábio, Assim mesmo realizaram grandes feitos cheios de garra e coragem. Fitando o Cruzeiro Do Sul, na noite quieta e estrelada, fiquei pensando em quantos pares de olhos fitaram este mesmo céu impassível, temendo pelo seu destino.
”Homens do mar oh! rudes marinheiros, tostados pelo sol dos quatro mundos; já cantava o poeta.

Fiquei muito tempo na ponte, antes da chuva, vendo Salvador se distanciar, aconchegando no seu colo todos os que amo; São 17.15 e se não estivesse nublado logo-logo daria para assistir o pôr-do-sol, o meu primeiro á bordo. São 18 horas e a noite no mar chega mais cedo, O navio balança cadenciada mente; tenho que conviver com isto durante alguns meses. Todos os cômodos da cabine tem uma alça para a gent e se segurar quando o balanço for mais forte. Só vejo mar, um belo, tranqüilo e brilhante mar azul ,Yemanjá mostrando sua bela face de paz, Não sei ainda qual é a nossa posição; penso que estamos perto do Recife, mas, passaremos ao largo.

Tomei minha primeira refeição á bordo, na cabina; frutas tropicais, água mineral filipina e chá quente que o capitão me trouxe pessoalmente ,juntamente com uma caixa de bombons. Já estou mais acostumada com o balanço. Distraio-me vendo filmes e folheando antigas revistas holandesas que o hóspede anterior deixou aqui.

TARDE

O dia estava lindo; mar azul e céu de almirante; Fiquei algum tempo na ponte, conversando com os oficiais; aprendi a calcular a distancia até o próximo porto diante de uma carta de navegação; á esteira do navio a espuma formava lindos desenhos, como a cauda de um vestido de noiva cheia de rendas valencianas, Final da tarde ,ceamos e depois fui passear no parque de containeres,carregados das mais diversas mercadorias rumo aos portos do Mediterraneo. Havia siglas e escritos incompreensíveis para mim, Tara, CU CAP etc., Começo a me familiarizar com a tripulação; o faxineiro não deixa de me saudar com um gostoso ”Hello” quando nos encontramos, nos meus incansáveis passeios pelo navio.
Às 16.30 passamos ao largo de Recife, que vi graças aos potentes binóculos de bordo.
Amanhã lá pelas 11hs. estaremos bem perto de Fernando de Noronha; vai dar para ver e fotografar a ilha. Os pássaros de lá já vieram visitar o navio e as plantas do Comandante espalhadas por todo canto; até um abacateiro ele tem.

O comandante adora plantas, comida natural e chá; como se toma chá mate neste navio!Até quando a gente desce as escadas, passando próximo ao alojamento da tripulação, o aroma do chá entra por nossas narinas, envolvendo tudo.
Amanhã, por volta das 11hs, estaremos bem perto de Noronha. Vai dar para ver a Ilha;
Aproxima-se outra noite; céu límpido. Atrasaremos os relógios em uma hora; serão 5hs a adiantar até Barcelona. Com a noite chega a saudade; vem devagarzinho se instalando, como quem não quer nada; sinto falta de Raul, imagino como ele gostaria de chegar do trabalho e encontrar conforto nos meus braços...
Hei de levar comigo uma saudade tua...
Hei de deixar contigo uma saudade minha...

Assisti “Free Willy no vídeo; agora é dormir na expectativa de Noronha.
Os chefões, em Santos, mandaram diminuir, por economia, a velocidade do navio, vamos atrasar.
Quem chegou para o jantar foi uma deliciosa carne assada, corada, gostosa, caprichada; ponto para o Cook; mas não faltou a eterna sopa de peixe, incolor e inodora, e o chá de mate de sempre;.René me oferece uma salada de pepino; diz que é para ficar mais sexy. Nunca soube desta propriedade do pepino; só se for a Manilla. Fui informada que a sala de ginástica estava interditada porque o navio sofreu uma avaria. Nem me atrevo a perguntar o quê causou essa avaria.

**************************************************
À noite, após o jantar, vimos um filme;,o favorito do capitão, "Litlle Woman." (Uma linda mulher)Comemos pipoca; o horrível café solúvel, não consegui encarar. Espero acordar amanhã para ver o nascer do sol.





Dormi muito bem e um quente raio de sol veio me dar os bons-dias. Da escotilha na cabina, até onde a vista pode alcançar,apenas um mar azul imenso e profundo.
E o céu azul
claro,
aparecendo sem manto de névoa
para se esconder...
O mar brilhando
refletindo
o brilho do sol!
IMG:Um passeio descontraido á popa do navio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário