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sábado, 23 de janeiro de 2010

DIÁRIO DE BORDO:CAP.XI

Depois da missa...
O "sermão"

Á espera da missa...


Domingo


O navio balançava bastante; estranhei, pois o dia estava claro, com sol forte. Ao descer para o passeio de todo dia reparei que ondas imensas nos cercavam;devia haver borrasca lá para as bandas dos States;Se o navio não estivesse tão pesado estaríamos voando.

Na volta do passeio encontramos toda a tripulação reunida na sala de refeições; havia uma missa filipina tocando no rádio e eles assistiam contritos; estes filipinos são muito católicos, odeiam comunistas e endeusam, ou melhor, idolatram mesmo - imaginem quem!?O Gal. Macarthy, ele mesmo, aquele dinossauro americano responsável pela caça às bruxas nos EEUU, que tanto mal causou á cultura e ás artes deste pais; Chaplin e outros deportados, impedidos de trabalhar, um período negro na sociedade americana.

Os filipinos sofreram muito com a invasão japonesa no seu país, foram trucidados; daí veio o Macartthy e libertou as Filipinas, virou herói nacional, com direito a um lugar no altar ao lado de Cristo; ta explicado. Voltemos á missa.O mais velho dentre eles segurava o microfone e conduzia a missa numa mesa improvisada em altar;havia uma tosca imagem de Cristo, um vidro de bebida,pensei que era mel,uma bandeja com duas garrafinhas plásticas cheias de uma erva mágica;três velas grandes acesas;a Bíblia coberta com uma toalhinha amarela,de crochê;O salmo 81 escrito em tagalo impresso numa pequena toalha branca com letras azuis.O canto sacro era bem bonito.Comovi-me ao ver aqueles homens rudes,tão contritos pedindo proteção para si e para os seus;Um deles recita”Se o céu e a terra estiverem em harmonia é uma benção de Deus;se o céu e a terra não estiverem em harmonia também é a presença de Deus.”Apos a missa, o mais velho colocou a bebida em taças -a maior para o comandante-e serviu a todos:genebra,água e açúcar;Bebi de um trago,mas,antes, todos nos saudamos uns aos outros,batendo levemente as taças;tin-tin.Rezam assim todo domingo,dia de folga da tripulação.O almoço também é mais caprichado;os homens passam o tempo assistindo TV,filmes e conversando;o Cap. vem até a sala deles e se enturma;aproveitei o dia favorável e mostrei minhas peças;poucos compraram,parece que são econômicos;assim mesmo aumentei minhas rendas em U.S.500.

Amanhã á tarde ,se Deus quiser,chegaremos á Tenerife, Ilhas Canárias; ficaremos no porto das 16 ás 20 hs. Vai dar para um rápido “sight- seeing” pela cidade.
Recebi a visita do capitão e da esposa para um chá e uma conversa gostosa no meu camarote; falamos um pouco de tudo. O sobrinho de René veio comprar um presentinho;U.S.20;minha fortuna vai aumentando.Hoje não fui nem uma vez á ponte;foi um dia ocupado.

Acabei indo passear com Francis, tirar fotos na proa; vagalhões imensos como montanhas pareciam querer lamber o navio; um espetáculo belo e assustador. A profundidade era de mais de 50 mil metros;a sorte é que, com o navio pesado balançávamos pouco;Uma espuma branca densa acompanhava o navio,substituindo a renda valenciana de ontem;estávamos na popa e aproveitamos para tirar fotografias;cansei;apesar de não fazer nada, a vida de bordo é cansativa,mesmo num espaço restrito de 150mt. quadrados; é muita escada para subir e descer equivalem há pelo menos quatro horas diárias de academia; as pernas doem, mas, o exercício é bom para elas.
Ainda sobre a missa da manhã: ao lado da imagem havia uma vasilha funda cheia de batata doce cozida que foi distribuída a todos; na época não entendi porque misturaram Macarthy com Jesus Cristo; hoje entendo, depois de conhecer melhor a historia deste povo; ambos foram Salvadores.

Aonde vou ,Cook, o cachorrinho de bordo me segue; ele é lindo, todo pretinho e como todo cachorro bastante amistoso; na hora mais solene da missa ele resolveu morder meu calcanhar, de leve, fazendo cócegas; só vive fazendo arte e xixi, faz por toda parte.

Imagino a cara de Edite se me visse agora no meio do mar com ondas deste tamanho.

Hoje, após dias de navegação, avistamos um navio ao longe; tão, tão distante que não dava para perceber se era um navio ou um rochedo.

Noite solitária na cabina; saudades de casa; e o meu gato, Bombom, como estará?
Está acompanhando a aventura?
Sábado tem mais...

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